Como administrar sua liquidez

Se você tem recursos disponíveis para investir na sua conta corrente, mas não sabe ao certo por quanto tempo ou ainda não decidiu qual a opção mais adequada para as suas necessidades, nada mais natural do que escolher uma aplicação com liquidez, ou seja, que tenha como característica a possibilidade de ser resgatada a qualquer momento, sem qualquer tipo de penalização.

A liquidez dos ativos financeiros ainda é vista por alguns economistas e por muitos políticos sob uma perspectiva negativa. De uma forma geral, acredita-se que a liquidez pode tanto incentivar a especulação quanto favorecer a desestabilização da economia, muitas vezes provocando inflação. Segundo esse pensamento, a principal razão para um investidor desejar liquidez para os seus investimentos é ficar constantemente mudando suas posições, para obter o máximo de lucro no curto prazo.

Em boa parte por causa dessa visão distorcida, no Brasil, o imposto de renda sobre os rendimentos das aplicações financeiras com prazo de até 180 dias são taxados em 22,5%, ao passo que, se o prazo da aplicação for superior a dois anos, a taxação cai para 15%. Portanto, nosso sistema de tributação dificulta a liquidez das aplicações financeiras.

Para contornar os custos decorrentes do sistema de alíquotas diferenciadas do IR, alguns bancos oferecem aos seus clientes a possibilidade de aplicação automática na caderneta de poupança, dos recursos parados na conta corrente. Nesse caso, quando sua aplicação completar o aniversário de um mês, você receberá o rendimento da poupança, que é líquido do imposto de renda.

O problema, evidentemente, é conseguir completar o ciclo necessário para que seus investimentos sejam remunerados. De nada adianta não pagar imposto se a contrapartida é não receber nenhuma remuneração. Como essa proposta não resolve o problema, a melhor alternativa é deixar o dinheiro parado na conta, porque isso pode incomodar e forçá-lo a encontrar uma solução definitiva.

Pode acontecer de a proposta anterior – de aplicação automática na poupança – envolver a possibilidade de disponibilização de um limite de crédito adicional no cheque especial para o caso de você precisar sacar os recursos numa data próxima ao aniversário da aplicação na caderneta. Ora, como os custos do cheque especial são substancialmente superiores aos rendimentos da poupança, nem perca tempo estudando essa possibilidade.

Você pode tentar formar um colchão de liquidez aplicando em um fundo DI. O problema é que, para reduzir o imposto de renda ao mínimo possível, você precisará deixar o investimento rendendo pelo prazo de dois anos antes de começar a sacar. Na maioria das vezes, essa espécie de prazo de carência não faz sentido se o objetivo é ter liquidez nos investimentos.

Outra característica do fundo DI é possuir prazo de 30 dias para que os resgates fiquem isentos de IOF. O efeito prático desse imposto nesse caso é o de eliminar os rendimentos da aplicação no fundo se os resgates forem feitos antes de 30 dias. Portanto, do ponto de vista prático, você pode considerar que é indiferente aplicar num fundo DI por até 30 dias ou deixar o dinheiro parado na conta corrente.

A conclusão é que, objetivamente, você tem duas escolhas para administrar a sua necessidade de liquidez. Se você não puder esperar nem ao menos 30 dias, deixe os recursos estacionados na conta corrente. Caso contrário, invista em fundos DI, espere 30 dias para escapar do IOF e depois fique livre para resgatar diariamente seus recursos, que estarão sujeitos à tributação de 22,5% sobre os rendimentos no prazo de até seis meses, de 20% entre seis meses e um ano, 17,5% a partir de um ano até dois anos e, por fim, 15% para períodos acima de dois anos.


Fonte: ValorInveste