Jornal britânico diz que Brasil pode ter bolha de crédito; especialistas discordam

SÃO PAULO – O crescimento do crédito e da inadimplência no país já repercute lá fora. No Reino Unido, uma reportagem publicada no Financial Times desta segunda-feira (20) alerta que o aumento da inadimplência pode gerar uma bolha de crédito. Especialistas ouvidos pelo InfoMoney discordam e são enfáticos em dizer que o Brasil está longe de viver esse cenário.

“Não há a menor evidência de bolha de crédito no país”, afirma o professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite. “A bolha é caracterizada pelo excesso de crédito em relação à capacidade de pagamento do tomador”, explica o professor. O que não ocorre no País.

Com o crescimento da economia e, por consequência, da renda dos trabalhadores, o crédito ampliou seu espaço, mas ainda de maneira sustentável. “Com esse aumento, os consumidores que ascenderam estão muito vorazes em consumir. É hora de diminuir a velocidade, mas, no longo prazo, ainda temos espaço para um crescimento sustentável do crédito”, acredita o professor do Ibmec José Ricardo.

“Não vemos condições de insustentabilidade do crédito no país”, afirma o presidente da Serasa Experian, Ricardo Loureiro. “A economia está indo bem e as taxas de desemprego nunca foram tão baixas. O crédito ainda pode melhorar muito”, acredita.

Problemas de outra natureza
A reportagem do jornal britânico dá como motivo para o "temor" de uma possível bolha o aumento da inadimplência. “Há um desconhecimento da realidade brasileira”, atesta Leite. A taxa, que se encontra em 6,1%, segundo os últimos dados do Banco Central, vem crescendo, em ritmo lento, desde o ano passado.
Mas o excesso de crédito não é o principal motivo para esse aumento. “O problema não está na oferta, mas no preço. O crédito no Brasil está muito caro, principalmente porque o Banco Central tem imposto normas que permitiram esse encarecimento, como o aumento do compulsório”, explica José Ricardo.

Com o consumo em alta, a inflação do país começou a subir acima do normal. E chegou a ultrapas
sar o teto da meta, de 6,5%, no acumulado dos últimos 12 meses, terminados em maio, que ficou em 6,55%, segundo os últimos dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Diante desse cenário, o BC editou regras no final do ano passado que encareceram o crédito e iniciou mais um ciclo de aperto monetário, com a alta da taxa Selic, que hoje está em 12,25% ao ano.

Com isso, a inadimplência vem crescendo. “É um crescimento modesto e ligado a questões estruturais”, afirma Loureiro. Ele calcula que, com o crédito mais caro, a inadimplência dos consumidores deve subir mais. “Estimamos que ela alcance os 8% neste ano”. Essa taxa, lembra o presidente da Serasa, é alta se comparada a outros países. Ainda assim, está longe de refletir uma bolha de crédito. “Não corremos esse risco. A inadimplência subiu, mas considerando o seu histórico, ela está baixa”, afirma.

Alerta
Para José Ricardo, do Ibmec, embora não preocupe, o aumento da inadimplência serve de alerta para os consumidores. “Esse aumento serve para os consumidores terem consciência de que o crédito está caro, para que eles se conscientizem de que eles precisam esperar as taxas caírem”, afirma.

Para ele, o encarecimento do crédito fará com que o comportamento do consumidor mude. “Com o tempo, essa voracidade do consumidor por crédito vai se amenizar. Temos muito espaço na economia para o crédito crescer sem criar problemas”, afirma José Ricardo. E, para abrir esse mercado, na avaliação de Leite, da Trevisan, é preciso uma queda substancial nos juros.

“Hoje, os novos consumidores têm uma dificuldade de lidar com o crédito”, afirma Loureiro, presidente da Serasa Experian. Para ele, a educação financeira é a chave para o acesso ao crédito mais sustentável e a estabilização da inadimplência. Até esses consumidores aprenderem a lidar com o aumento da renda, porém, os especialistas não acreditam em formação de bolhas no país.

Fonte: InfoMoney