Governo ameaça com medidas e dólar sobe 0,31%, para R$ 1,614
SÃO PAULO - Não foram as variáveis de oferta e demanda que determinaram a formação da taxa de câmbio nesta quarta-feira, mas sim uma ameaça no ministério da Fazenda, que ainda hoje deve anunciar novas medidas na área cambial. A fala do ministro Guido Mantega está agendada para 18h30.
Por cautela, os vendedores que pautaram o mercado até às 13h30, horário do anúncio sobre a fala do ministro, se retiraram do mercado e o dólar comercial fechou o dia com alta de 0,31%, a R$ 1,614 na venda.
Vale lembrar que a moeda fez mínima a R$ 1,603, menor cotação desde o começo de agosto de 2008. E que a expectativas nas mesas era de que a linha de R$ 1,60 poderia ser testada ainda hoje.
Na roda de pronto da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) o dólar pronto ganhou 0,30%, a R$ 1,6125. O volume caiu de US$ 216 milhões para US$ 66,75 milhões.
Também na BM&F, o dólar para maio apontava alta de 0,24%, a R$ 1,621, antes do ajuste final de posições. Os investidores encerraram os negócios especulando sobre o que pode ser anunciado. Segundo um grande banco, a "canetada" seria novo aumento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Resta saber se a tributação maior pegaria renda fixa, renda variável, captações ou qualquer outra modalidade de ingresso externo. Ainda de acordo com esse banco, a alíquota seria bastante elevada, algo superior a 10%.
Os agentes também têm a percepção de que o Banco Central (BC) não estaria envolvido nessa nova medida. O que ajuda a elevar a percepção de que a alteração viria, mesmo, via IOF, pois para mexer com posições vendidas e outros instrumentos há necessidade de discussão com a autoridade monetária. Outras possibilidades são algum tipo de quarentena, ou seja, um prazo mínimo de permanência para o capital externo ou mesmo uma revisão da medida editada na semana passada, que instituiu IOF de 6% sobre os empréstimos externos inferiores a 360 dias. A percepção é de que esse prazo poderia ser ampliado.
Vale lembrar que o governo já "decepcionou" com suas últimas medidas no câmbio, que foram vistas como "paliativos", o que gerou ondas vendedoras de dólar. Antes desse último anúncio de IOF nas captações, o dólar comercial chegou a R$ 1,686 na máxima de março, antes de fechar o mês a R$ 1,631 e escorregar até a linha de R$ 1,60 agora neste começo de mês.
Mesmo sem saber que medidas serão anunciadas, parte dos participantes do mercado já critica a Fazenda, que, novamente, avisa o que pretende fazer, perdendo, assim, o efeito "surpresa".
Fora isso, os agentes acreditam que por mais forte que seja a "canetada" de hoje, dificilmente mudará a estrutura econômica que explica boa parte dessa apreciação do real. O que falta é uma coordenação de políticas que resultem em queda na taxa de juros. Algo que, de fato, deixaria o país menos atraente ao capital externo.
Ilustrando como o Brasil está na agenda de investimentos globais, o fluxo cambial de março foi positivo em US$ 12,66 bilhões, sendo US$ 8,99 bilhões via conta financeira e US$ 3,66 bilhões via conta comercial.
No acumulado do ano a sobra de dólares já ultrapassa US$ 35 bilhões, 44% a mais do que o fluxo registrado em todo o ano de 2010. Dessa montanha de dinheiro, US$ 31 bilhões vieram pela conta financeira e apenas US$ 4 bilhões pela conta de comércio.
Fonte: Valor Online
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