Cenários diferentes afetam comunicação do BC e Fed
Enquanto no Brasil os analistas têm poucas certezas a respeito da política monetária, nos Estados Unidos o mercado carrega baixa controvérsia sobre o Federal Reserve (Fed, banco central americano).
Os bancos centrais do Brasil e dos EUA enfrentam desafios bem diferentes. No Brasil, a autoridade monetária enfrenta uma inflação persistente, puxada pelas commodities, e um real valorizado. Ao mesmo tempo, lida com a desconfiança do mercado, ainda inseguro com a nova gestão do BC.
Nos EUA, a alta de preços não preocupa o Federal Reserve, que se concentra em acelerar a economia e aumentar a geração de emprego.
"Enquanto o Brasil está tentando desacelerar a economia, os Estados Unidos têm que se recuperar da crise", aponta José Góes, analista econômico da WinTrade. "Esse cenário é inédito, e é um dos fatores que dificulta a atuação do BC", lembra Góes.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu na quarta-feira (20/4) elevar os juros em 0,25 ponto percentual. A reunião foi dividida, com dois membros votando em uma elevação de 0,50 ponto percentual.
A ausência de um consenso entre os membros reflete o difícil momento da economia. "Não está fácil o cenário para o BC", aponta Góes. "Há também o problema do câmbio, que se aprecia conforme aumenta a diferença de juros entre o Brasil e as demais economias."
Com o Copom dividido, o mercado sabe menos ainda quais serão os próximos passos da política monetária. Alguns apostam em novo aumento de 0,25 ponto, enquanto parte dos analistas dá o ciclo de alta por encerrado.
Já nos EUA, há uma maior certeza de que a autoridade monetária deva manter a taxa básica de juros entre 0% e 0,25% ao ano, nível em que se encontra desde dezembro de 2008. Além disso, o Fed deve manter ao menos até o meio do ano o mecanismo de injeção de dólares na economia por meio da compra de títulos públicos.
"Como o desemprego permanece elevado e sinais de recuperação no mercado imobiliário são fracos, não esperamos que o Fed vá mudar sua política monetária no curto prazo", aponta análise do Royal Bank of Canada.
Pela primeira vez na história da instituição, o presidente do Fed, Ben Bernanke, responderá a perguntas da imprensa após o encontro, que começa nesta terça-feira (26/4) e termina na quarta-feira (27/4).
"Não se trata de uma mudança permanente na comunicação do Fed", diz Góes. "É possível que o Bernanke vá tentar dizer qual o pensamento do Fed a respeito do rebaixamento da perspectiva da nota de crédito americana."
Na semana passada, a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) revisou a perspectiva da nota de crédito de estável para negativa, citando a deterioração fiscal do país.
"A comunicação depende muito do momento, e do que eles querem passar", aponta o administrador de investimentos Fábio Colombo.
Por aqui, o mercado ficará de olho na ata da reunião do Copom, que será divulgada na quinta-feira (28/4). Com a divisão do comitê e as dúvidas do mercado sobre a continuidade do ciclo de alta de juros, o documento ganha um peso maior.
"Para o BC, a melhor coisa é não gerar surpresa, caso contrário o mercado sofre solavancos", afirma Colombo. "O ideal é que o BC vá indicando seus próximos passos, mas isso nem sempre é fácil."
Fonte: Brasil Econômico