Bolsa x Renda Fixa: Em que investir?

A renda variável é para o longo prazo. A renda fixa é para o curto prazo. Esta é uma verdade aceita universalmente no mundo dos investimentos. Menos no Brasil. Aqui, a renda fixa ainda é rei.


E por um motivo muito simples: o Plano Real trocou a maior inflação do mundo pela maior taxa de juros do mundo. E continuamos a ser, 17 anos depois, os campeões mundiais das taxas de juros.

Estudos como os realizados pelo economista entrevistado pela agência Estado, têm um defeito grave: assumem que o investidor coloca o seu dinheiro na bolsa uma única vez, e aguarda 10 anos para resgatar. Nada mais equivocado: na verdade, o investidor consciente vai colocando dinheiro na bolsa periodicamente, pois não tem a pretensão de acertar o melhor momento para entrar. 

Mesmo assim, os mais críticos podem dizer: esta vitória da renda variável é muito magra, considerando o tamanho do risco envolvido. Vejamos:

Volatilidade da renda fixa: 1,6% ao ano
Volatilidade da renda variável: 31,4% ao ano

De fato, parece que a renda variável, mesmo ganhando da renda fixa, ganhou pouco para justificar a diferença de risco. Por isso, eu ainda prefiro olhar para o conceito, e não para o passado. O Brasil ainda está em processo de transição para ser uma economia decente. Chegaremos lá, se não jogarmos fora todo o esforço feito até agora. Portanto, teremos taxas de juros cada vez mais baixas no futuro, não sem antes passar por vários altos e baixos. E o que esperar da renda variável nesse contexto?

Para entender o meu ponto de vista, raciocine comigo: para obter capital para os seus negócios, as empresas têm, basicamente, duas fontes de recursos: dívidas e capital próprio. O custo da dívida são os juros a serem pagos aos credores (renda fixa) e o custo do capital são os dividendos a serem pagos aos acionistas (renda variável). Não há dúvida que os acionistas estão correndo mais risco do que os credores. Estes recebem o seu dinheiro de volta mesmo que a empresa não gere lucro (a não ser, claro, que a empresa quebre). Já os acionistas só vão receber os dividendos se a empresa gerar lucro depois do pagamento dos juros. Ou seja, os credores são os primeiros a receberem, e se sobrar, os acionistas recebem. Para assumir este risco, os acionistas vão querer uma remuneração maior do que a dos credores. É lógico, não? Se assim não fosse, os acionistas prefeririam ser credores, certo?

Agora imagine um mundo onde a perspectiva dos acionistas fosse pior que a dos credores. Todo mundo seria credor, correto? Neste mundo, não haveria capital próprio, somente dívidas. Imagine todas as empresas rodando os seus negócios com 100% do seu capital emprestado. Não dá, não é mesmo? Por isso, é preciso que a remuneração esperada dos acionistas seja maior que a remuneração esperada dos credores. E maior a ponto de compensar o
risco assumido maior.

- Mas Dr. Money, eu entendo esse raciocínio quando tratamos da empresa própria. Eu, se tivesse uma empresa, colocaria o meu dinheiro, e não tomaria emprestado nos bancos, pois as taxas de juros são escorchantes. Mas o que isso tem a ver com a bolsa?

Tudo a ver! Você, ao investir em uma empresa, espera que o retorno seja maior do que as taxas de juros “escorchantes” dos bancos. Se não esperasse isso, aplicaria o seu dinheiro em… renda fixa! Claro que o spread bancário distorce este raciocínio: você pode ter um negócio que rende mais do que o investimento em renda fixa, mas cujo retorno é menor do que as taxas de juros cobradas pelos bancos. Mas isso não invalida o raciocínio, uma vez que estamos comparando o retorno do investimento em sua empresa com o retorno de investimentos em renda fixa.

Fonte: Finanças Pessoais