Por que o dólar sobe tanto ante o real


Considerando moedas emergentes e de países desenvolvidos o real é a que mais cai ante o dólar. Isso não é fato apenas no dia, mas também na semana e no mês. Da mínima do ano, registrada em 26 de julho, a R$ 1,537, o preço da moeda americana já subiu 19,20%.


Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para outubro ganhava 2,53%, a R$ 1,8375, mas já subiu a R$ 1,8515.

Os agentes buscam explicações para tal fenômeno e os assuntos recorrentes são a zerada de posição vendida no mercado futuro (ou seja, sair da aposta no real e passar a apostar no dólar), saída física de recursos do país, algo que virou realidade na semana passada, mas em volume pouco expressivo, além da tradicional especulação.

Cada dia um fator pesa mais do que o outro, mas a questão é que tal quadro de desvalorização do real não surgiu de um dia para o outro. Ele foi sendo construído pouco a pouco, com ajuda do governo e pela transformação de quadro externo.

No lado do governo sabe-se que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está pessoalmente engajado na "guerra cambial" e desde o fim do ano passado vinha editando medidas para conter a valorização do real.

A última movimentação nesse campo de batalha tem ares de ter sido definitiva nesse rearranjo de forças. Ao taxar as posições vendidas (que aposta no real), o mercado passou a consolidar sua nova cara.

Ficou clara a impressão de que o real tem piso - fora o imponderável das mudanças de regra a qualquer momento, percepção reforçada pelo IPI para carros importados.

Junto com isso, a crise de endividamento soberano europeu só fez piorar. Os ativos de risco saíram de moda no mundo todo e entre eles as moedas de alto retorno.

Agora a situação fica pior conforme a visão de que o default da Grécia é uma questão de "quando" e não de "se". Essse evento colocaria em risco o sistema financeiro europeu e, por extensão, mundial.

A frase do momento é recapitalizar as instituições financeiras, ou seja, levantar dinheiro para enfrentar os momentos difíceis. Esse dinheiro terá de sair de algum lugar e os emergentes são candidatos a "pagar" essa conta.

Pode-se argumentar que o Brasil continua sólido e mostrando crescimento, mas essa história não convence ao menos por ora. O que os investidores externos enxergam é inflação alta e crescimento perdendo força. Além do que em momentos de incerteza, como o atual, é sempre bom ter seu dinheiro perto de você e não em alguma "moeda exótica da América Latina"


Toda essa agitação no câmbio resulta em expectativas dissonantes. Pode-se ouvir de analistas que dólar a R$ 1,80 é novo piso do mercado. E agentes que acreditam que estamos passando apenas por um episódio de volatilidade extremada, que em breve o real voltará a mostrar sua robustez. Cada um compra a versão que lhe convém.

O que dá para falar com algum grau de propriedade sobre o assunto é que "as moedas não flutuam, elas mergulham em diferentes proporções", já dizia o financista Clayde Harrison.

Fonte: Valor Econômico