Ibovespa ou IBrX? Qual índice melhor retrata o mercado acionário brasileiro?

Qual índice melhor retrata o mercado acionário brasileiro? Qual o mais adequado conceitualmente? A metodologia do Ibovespa pode gerar inconsistências? Como são compostas as carteiras desses índices? Há diferença significativa de desempenho entre eles?

Conceitualmente, o Índice Brasil (IBrX) é melhor do que o Ibovespa. O Ibovespa leva em conta a liquidez das ações para a composição de sua carteira. No IBrX, a liquidez também é condição para a seleção das ações, mas, além disso, a carteira é ponderada pelo valor de mercado. Assim, empresas com maior valor de mercado (número  de ações multiplicado pela cotação), considerando-se apenas o número de ações disponíveis no mercado (“free float”) tendem a apresentar maior peso no IBrX.  A metodologia de cálculo do Ibovespa pode gerar inconsistências. Imagine uma empresa que venha apresentando algum problema operacional. Neste caso, a liquidez das ações pode aumentar, pois os investidores tendem a se desfazer dos papéis. Com isso, apesar de começar a perder importância , a ação dessa companhia tende a ganhar peso no Ibovespa. No IBrX, como o valor de mercado diminuiria, o peso da ação no índice também cairia.

O Ibovespa é o índice mais conhecido da bolsa brasileira. A primeira carteira hipotética foi divulgada em janeiro de 1968. Não foi feito nenhum investimento adicional desde então, com a carteira sendo ajustada por proventos distribuídos pelas companhias (reinvestimento dos dividendos distribuídos, investimento com o valor apurado da venda de direitos de subscrição e manutenção na carteira das ações recebidas como bonificação).

A seleção das ações que vão integrar o Ibovespa é baseada no índice de negociabilidade onde se leva em conta o número de negócios e o volume financeiro de uma determinada ação em relação ao mercado total. Assim a liquidez é muito importante para a seleção de um determinado ativo e para o ranking dos ativos. As ações que compõe a carteira teórica do Ibovespa devem atender três condições: (i) estar incluída em uma relação de ações cujos índices de negociabilidade somados representem 80% do valor acumulado de todos os índices individuais; (ii) apresentar participação, em termos de volume, superior a 0,1% do total e (iii) ter sido negociada em mais de 80% do total de pregões do período.

Ações de companhias em recuperação judicial, processo falimentar, situação especial ou sujeitas a prolongado período de suspensão de negociação não entram na carteira.

As carteiras são revisadas quadrimestralmente para atender aos critérios. Cada carteira vale para os períodos de janeiro a abril, maio a agosto e setembro a dezembro.

A principal crítica feita ao Ibovespa é basear-se primordialmente na liquidez. Com isso surgem inconsistências em alguns momentos. Por exemplo, no início da década passada, a Embratel começava a ter seu modelo de negócios baseado em ligações de longa distância e transmissão de dados questionado. Com a desestatização do setor, havia uma demanda reprimida por telefonia fixa e celular que era atendida pelas demais “holdings” oriundas da Telebrás - Telesp, Brasil Telecom, Telemar, Telesp Celular e outras – , mas não pela Embratel. Além disso, a companhia não possuía o cadastro atualizado dos clientes (em poder das demais “holdings”) o que gerava dificuldades para a cobrança dos seus serviços de longa distância. E, por fim, novas tecnologias começavam a ameaçar os negócios da companhia como o VoIP (“voice on internet protocol”). Não tardou para o mercado penalizar as ações da companhia. Contudo conforme as ações eram vendidas, aumentava a liquidez das mesmas e, com isso, o peso das ações preferenciais de Embratel no índice. Em suma, enquanto as ações da companhia vinham perdendo importância junto aos investidores, o peso das ações no Ibovespa aumentavam. Outro caso interessante e que aconteceu recentemente foi o de Mundial, fabricante de alicates e tesouras. As ações da companhia ganharam volume significativo em um curto período de tempo sem razão aparente e começaram a surgir rumores de que as ações da companhia poderiam entrar no índice. Em 30 de dezembro de 2010, a ação preferencial de Mundial teve liquidez de R$ 179mil e em 11 de julho negociou R$ 333 milhões. Uma ação desconhecida poderia ter entrado no principal índice do mercado brasileiro de acordo com os critérios de inclusão, embora a BM&FBovespa pudesse alegar que se tratava de um caso especial. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar se houve alguma irregularidade na negociação dos papéis.

O Índice Brasil (IBrX) é composto por 100 ações negociadas na BOVESPA em termos de número de negócios e volume financeiro. Para integrar a carteira, as ações devem atender os seguintes critérios: (i) estarem entre as 100 ações com maior índice de negociabilidade apurados nos doze meses anteriores e (ii) terem sido negociadas em 70% dos pregões nos doze meses anteriores. Após atenderem aos critérios acima, as ações são ponderadas levando-se em conta o valor de mercado das companhias, considerando-se apenas as ações negociadas no mercado, excluindo-se as pertencentes ao controlador.

A divulgação da carteira teve início em janeiro de 1997. A periodicidade de atualizações é igual a do Ibovespa.

Dada a dificuldade de montar uma carteira de 100 ações, a Bovespa criou o IBrX-50 que possui os mesmos critérios para a formação da carteira que o IBrX, mas que leva em conta apenas as 50 mais negociadas. O IBrX-50 começou a ser divulgado em janeiro de 2003.

Classifiquei os dois índices – Ibovespa e IBrX - por setores. Consideramos como empresas pertencentes ao setor de commodities não somente os setores de mineração, papel e celulose e óleo, mas também o petroquímico e o siderúrgico dada a dependência dos preços das commodities para esses setores. A conclusão é que os dois índices apresentam grande concentração em commodities – 46,3% no Ibovespa e 41,9% no IBrX. Pode se perceber que as ações de incorporadoras e shoppings tem um peso significativamente maior no Ibovespa que no IBrx – 9,0% versus 3,9%, respectivamente. Por outro lado, as instituições financeiras possuem peso no IBrX bem maior, 20,7% frente a 13,6% do Ibovespa.



Fonte: ValorInveste