Deflação do IPC-S em junho é sazonal, alerta FGV

A deflação de 0,18% do IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal) em junho foi causada por efeitos temporários e não se sustentará nos próximos meses, afirma o economista André Braz, da FGV (Fundação Getulio Vargas). "Não dá para imaginar que esse 0,18% negativo seja persistente. O IPC-S continua bem pressionado com serviços." 

Segundo Braz, o que orientou a queda do indicador em junho foram fatores sazonais, como o comportamento dos alimentos in natura e dos combustíveis, embora o álcool já não mostre retração tão vigorosa como nas últimas semanas. A deflação de 0,89% no item alimentação foi puxada por variação negativa de 3,99% em hortaliças e legumes, e recuo de 7,02% em frutas. A deflação de 1,09% no grupo transportes, por sua vez, foi puxada por queda de 7,39% no álcool combustível e igual movimento de 3,42% na gasolina.

Por outro lado, os serviços continuam sendo uma ameaça à inflação no segundo semestre, diz Braz. O economista nota que itens como alimentação fora de casa, consultas médicas, empregada doméstica e salão de beleza tiveram aumento de preços acima da inflação em 12 meses, de 9,5%, 10,7%, 7,11% e 9,9%, respectivamente. A alta do IPC-S no período foi de 6,4%.

"Dá para ver uma demanda bem aquecida. As taxas de desemprego estão cada vez mais baixas, o rendimento do trabalhador está subindo e as negociações salariais deste ano estão orientadas pelo que vai ser o aumento do mínimo em 2012, cuja expectativa é de alta superior a 13%. Tudo isso potencializa o poder de consumo e gera uma demanda maior, que realimenta o aumento de preços", alerta Braz, para quem o número de junho não é motivo de comemoração porque o núcleo do IPC-S, que exclui os itens mais voláteis, continua pressionado. Em maio, o núcleo ficou em 0,48%, e, em junho, teve uma pequena desaceleração, para 0,40%.

O economista também chama atenção para os reajustes de tarifas públicas que devem ocorrer no segundo semestre do ano. "A partir de agosto, haverá reajustes de preços administrados em cidades de peso dentro do IPC-S, como Rio de Janeiro e São Paulo. Como reajustes ocorridos no primeiro semestre foram superiores à inflação em algo dentro de 9% a 10%, o impacto dentro do indicador pode ser bem mais forte."

Para o índice de julho, Braz projeta um número próximo a zero, mas positivo, com aceleração mais forte em agosto, devido ao reajuste de tarifas públicas como energia e telefonia, previstas para este mês no calendário da região Sudeste.

Fonte: Folha.com