Mulheres representam 24,76% do total de investidores das ações da Bolsa de Valores


De acordo com o perfil dos investidores estabelecido pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a participação das mulheres aumentou mais de dez vezes nos últimos oito anos. Enquanto em 2002 elas eram pouco mais que 15 mil, correspondendo a 17,63% dos investidores, no ano passado elas totalizaram 24,76% dos investidores, somando mais de 150 mil mulheres.

De acordo com dados preliminares de 2011, a tendência é continuar a crescer: a participação feminina já é de 24,81%, somando mais de 148 mil mulheres apenas no primeiro trimestre do ano.   
Há dez anos a empresária carioca Paula Cardoso Fontes, 29, investe na bolsa de valores. O marido, que já tinha experiência no mercado, a ajudou a iniciar seus investimentos. Atualmente Paula possui uma aplicação de risco moderado, com investimentos na Petrobras e Vale. Os dividendos variam, mas em média ela consegue uma renda de R$ 4 mil mensais.
“Olho a cotação da bolsa todo dia e em todos os horários livres. Brinco que é a minha droga. Já levei até o computador para o banheiro. Tive grandes perdas, principalmente, na época da crise. Eu dizia que o meu dinheiro estava virando pó. Tirei tudo, respirei fundo e fiquei um tempo fora da bolsa. Depois voltei e recuperei todo o meu investimento, voltando a lucrar”, conta Paula, afirmando que seu objetivo é juntar dinheiro para comprar mais duas lojas da franquia Pello Menos”, planeja.
O niteroiense Patrick Klapztein, 30 anos, economista e consultor de investimentos da Fortune Invest acredita que esse crescimento da participação feminina na bolsa é resultado da independência da mulher. Depois da conquista da igualdade de direitos e da entrada no mercado de trabalho, a independência financeira é o próximo passo. E o mercado de ações é uma boa opção. Segundo o consultor, quem investiu R$ 10 mil em ações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no ano de 2000, teria hoje R$ 840 mil.
“Antigamente existia uma visão de que a bolsa de valores era exclusividade para homens. Mas hoje 40% do nosso público em palestras e cursos são mulheres. Elas buscam aprender antes de investir e se tornam mais preparadas para o mercado de ações. O perfil das mulheres é mais conservador. Elas procuram investir em empresas conhecidas. Elas querem segurança nos investimentos e sempre têm uma visão de longo prazo, escutam bastante as opiniões e sabem filtrar. E não podemos esquecer do mais importante: são intuitivas”, explica.
A funcionária pública aposentada Cristina Meirelles Nahú, de 52 anos, é uma das mulheres que buscam mais conhecimento para operar suas ações. Ela entrou na bolsa de valores quando a empresa onde trabalhava, a Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro (CEG), foi privatizada, em 1997. Os funcionários que foram dispensados poderiam escolher entre receber sua bonificação em dinheiro ou em ações da empresa. Cristina escolheu ficar com as ações e não se arrependeu. Enquanto os colegas de trabalho gastaram o dinheiro, ela tem um investimento que rende lucros anuais de até 10 salários mínimos.
“Não são ações de alta rentabilidade, mas esse dinheiro me permite fazer uma pequena reforma que a casa esteja precisando ou pagar um curso ou viagem para minhas filhas. Eu pretendo ampliar minha carteira de ações investindo em outras empresas. Por isso estou fazendo cursos gratuitos e assistindo a palestras sobre investimentos. São boas dicas que aumentam meu conhecimento sobre a bolsa e me ajudam no orçamento da casa”, explica Cristina.
Apesar de acompanhar as grandes variações da bolsa, Cristina conta com o apoio de uma corretora de valores, que administra sua carteira de ações. Rafael Giovani, gerente de relacionamento com o cliente da Um Investimentos destaca que normalmente as mulheres são mais cautelosas e preferem o apoio de profissionais capacitados.
 “Diferentemente dos homens, elas se permitem perguntar mais e não têm vergonha de admitir quando estão com alguma dúvida. São mais cautelosas, ‘desconfiadas’ e não costumam acreditar em tudo o que ouvem por aí. As mulheres preferem se planejar, pesquisam e leem muito sobre o mercado e sobre as empresas nas quais  desejam investir”, completa.
Sem medo de arriscar
Adriana Feijó, 40, era fonoaudióloga há 16 anos quando percebeu que tinha esgotado todas as possibilidades financeiras de sua carreira. Em 2004, aproveitando a venda de uma sala comercial, resolveu aplicar o dinheiro na bolsa de valores. Ela fez vários cursos sobre o assunto, largou a profissão e se tornou uma day trader – operadora de mercado de ações diário, trabalhando com variações de curto prazo.
Ela percebeu um grande número de mulheres interessadas em investir, mas que ainda se limitavam a ser espectadoras. Estimulada por sua experiência pessoal, Adriana montou o site Mulheres de Valor, um canal de análise e discussão de tudo que diz respeito ao mercado, com uma visão feminina. A trader afirma que não existe uma preferência das mulheres pelos investimentos de longo prazo e sim que essa é a primeira alternativa apresentada a elas.
“A mulher ainda se sente intimidada e muitas vezes com razão, pois a bolsa é um meio predominantemente masculino. Infelizmente, ainda existe muito preconceito com relação à mulher como investidora e, em especial, quando ela opera no curto prazo. Mas é um caminho que está se abrindo para o público feminino, com a popularização do mercado de renda variável no curto prazo, elas demonstram interesse e confiança em suas decisões, aumentando a busca por essa opção”, explica.
Fonte: Jornal O Fluminense