Blue chips: 2010 tem castigado algumas das maiores empresas da bolsa
SÃO PAULO – A
Petrobras (PETR4)
tem hoje um dos piores desempenhos da bolsa no ano e perdeu
recentemente o posto de maior blue chip brasileira para a Vale. Mas ela
não é a única large cap a sofrer deste mal: junto com a estatal, são
várias as grandes empresas que não conseguem decolar – ou ao menos
driblar o cenário negativo – e preocupam os investidores.
Se o benchmark da Bolsa de Valores de São Paulo registra atualmente
uma desvalorização de 5% no acumulado do ano, há ao menos duas dezenas
de empresas na carteira do índice cujo desempenho no ano está pior.
Algumas, como a Brasil Telecom (BRTO4) e a B2W (BTOW3),
apresentam uma desvalorização quase oito vezes maior. Outras, como a
Usiminas (USIM5),
colecionam cortes em recomendações.
Entre as explicações para a performance ínfima estão fatores
setoriais e próprios de cada empresa, além do cenário doméstico e
internacional. Às vezes, uma percepção negativa do mercado é contraposta
a recomendações animadas dos analistas; outras, investidores e
especialistas concordam: o melhor é ficar fora por um tempo.
Usiminas: o consenso é ruim
Quantos analistas reduziram as recomendações ou estimativas para a Usiminas? Só neste mês, três grandes bancos tiveram essa atitude: Santander, Citigroup e Barclays. Pouco antes, em 30 de julho, o BTG Pactual optou pela mesma ação, sugerindo aos clientes usarem os rendimentos com Usiminas para comprarem fatias na Vale (VALE5), Gerdau (GGBR4) e CSN (CSNA3).
O que leva uma empresa de renome como a siderúrgica mineira a reunir
tantas opiniões negativas? “Nós estamos menos otimistas sobre a
perspectiva para os próximos meses já que a principal atividade
corporativa (venda de mineração) já aconteceu e a melhora das margens
operacionais provavelmente irá desapontar”, justifica o analista Edmo
Chagas, do BTG Pactual.
A perspectiva de redução das margens é comumente citada como fator de
pressão sobre o desempenho dos papéis da empresa. “Os altos estoques de
distribuidores de aço (aproximadamente 3,5 – 4,0 meses de vendas) e a
entrada contínua de importações forçaram as siderúrgicas a reduzir os
preços na margem, de acordo com nossas fontes, no mercado de
distribuição de aço plano”, explicam Felipe Reis e Alex Sciacio, do
Santander.
No ambiente doméstico, o alto custo dos insumos e os fracos preços
locais imputam um viés pessimista à avaliação da empresa que, segundo o
Citigroup, tem 87% de sua produção ligada a aço plano e três quartos de
suas vendas são no mercado brasileiro.
“A Usiminas deve ser a empresa mais exposta negativamente às
condições de mercado mais fracas que o esperado no setor de aço no
Brasil, pois não é autossuficiente em minério de ferro e sua execução em
aço foi mais fraca do que a da CSN”, resumem os analistas do Santander.
Isso tudo acontece ao mesmo tempo em que o cenário internacional para
as siderúrgicas piora. As percepções negativas em torno da recuperação
econômica dos Estados Unidos e da Europa, além da desaceleração do
crescimento chinês, também pesam no humor dos investidores frente aos
papéis da Usiminas.
O resultado disso é uma queda de 3,7% das ações ordinárias e um recuo
de 5,8% das preferenciais classe A desde janeiro até o fechamento do
último pregão. Só nos últimos 30 dias, a queda dos ativos atinge 12,8% e
12,9%, respectivamente.
O fraco desempenho dos papéis, contudo, é visto como oportunidade por
alguns analistas. “A Usiminas está realizando investimentos para
aumento de capacidade de produção de chapas grossas e ao mesmo tempo
investe no negócio de transformação do aço em produtos acabados, como
plataformas e peças estruturais para grandes projetos de construção que
serão criados com os eventos Copa do Mundo e Olimpíadas”, afirma a SLW
Corretora.
“Sua busca maior é capturar a forte demanda que será originada com o
desenvolvimento do pré-sal. Estamos incluindo suas ações na carteira
desta semana decorrente da fraca performance dos preços de suas ações
nas últimas semanas”, acrescenta.
Grupo Telemar: a gigante com problemas de governança
O caso da Brasil Telecom e das demais empresas do grupo Telemar é diferente da Usiminas. A crise de governança corporativa e o recente anúncio de transação com a Portugal Telecom sobrepõem-se aos resultados positivos do segundo trimestre de 2010, que mostraram reversão dos prejuízos milionários reportados no mesmo período de 2009.
Os papéis ordinários e preferenciais da BrT acumulam perdas
respectivas de 45,7% e 35,5% em 2010, seguidos pelas ações da Tele Norte
Leste Participações (TNLP3 –25,3%, TNLP4 –28,2%) e da Telemar Norte
Leste (TMAR3 –11,9%, TMAR5 –25,4%).
O desempenho dos papéis é pressionado desde início deste ano pelos
imbróglios envolvendo a relação de troca das ações da Brasil Telecom com
os papéis da Telemar Norte Leste após a fusão, firmada em 2008. A
última etapa da operação, com vistas a simplificar a estrutura acionária
da Oi, teve várias etapas: em janeiro, a relação inicialmente proposta
foi suspensa devido à existência de contingências de R$ 2,5 bilhões no
balanço da BrT, maior do que o previsto anteriormente.
Em março, a empresa anunciou uma nova relação de trocas, que foi
recusada pelos acionistas minoritários, reunidos em assembleia
extraordinária em junho. A situação trouxe dúvidas expressivas em torno
da governança corporativa do grupo.
Agora, a operação com a Portugal Telecom volta a levantar essas
questões, sobrepondo-se ao lucro de R$ 444 milhões da Tele Norte Leste
no segundo trimestre. “Os números da Telemar vieram, de modo geral,
melhores que nossa expectativa, cabendo ressaltar o bom desempenho do
business de telefonia móvel, pautado na rentabilização da base de
acessos, associado a uma série de economias de custos e despesas
decorrentes de sinergias e ganhos de eficiência”, afirmou a Ativa
Corretora.
Entretanto, a instituição ressalta que “os eventos societários
associados à aliança industrial entre a empresa e a Portugal Telecom,
destacadamente o aumento de capital de R$ 12 bilhões nas duas empresas
do grupo, com elevado potencial de diluição para os minoritários,
deverão prejudicar uma possível reação aos bons números divulgados”. A
perspectiva é de pressão no curto prazo, devido ao overhang causado pela
capitalização.
Da mesma forma, os analistas Michel Morin e Daniel Spilberg, do
Barclays, afirmam que o aumento de capital trará uma diluição de 14% nos
lucros por ADR (American Depositary Receipt) da empresa, conforme
estimativas preliminares. Além disso, “sem estender o direito de tag
along aos minoritários, a operação deve dissipar a noção de que as
práticas de governanla podem melhorar no futuro”.
Outro ponto que pressiona os papéis é a perda de participação da
empresa no mercado. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)
divulgou nesta semana os números do mercado de telefonia celular no
Brasil referentes a julho, mostrando uma redução do market share do
grupo Telemar, incluindo a BrT, de 20,08% para 19,93%.
“A Oi e a BrT novamente ficaram defasadas em relação aos rivais e
continuaram classificadas abaixo da média em todas as métricas que
seguimos”, comentaram Morin e Spilberg.
Fibria: queda nos preços preocupam
No caso da Fibria, não há consenso entre os analistas. Apesar do papel ordinário da empresa registrar queda de 30,2% no acumulado do ano, as opiniões estão divididas. O certo é que os preços da celulose começaram a cair em agosto, o que prejudicou a avaliação sobre as ações da gigante e pressionou seu desempenho. Só nos últimos sete dias, os papéis recuaram 6,9%.
Frisando a redução de US$ 50 por tonelada nos preços da celulose nas
principais regiões em agosto, a analista Debbie Bobovnikova, do
JPMorgan, prevê que o declínio continuará até 2011. “Nós esperamos que
os preços da celulose caiam cerca de 20% dos picos atingidos em julho e
que os valuations permaneçam pouco atrativos dada a nossa opinião sobre o
ciclo”.
Por outro lado, o Citigroup prevê uma alta dos preços a começar de
meados de 2011, o que embasa uma recomendação já positiva aos papéis. “A
exposição da Fibria a cellulose (85% da geração de caixa) deve permitir
uma performance positiva do preço das ações nos próximos anos, dada a
nossa expectativa por um novo ciclo de alta no prelo da commodity,
começando em meados de 2011”, avalia o analista do banco Juan Tavarez.
Porém, ele alerta que as expectativas de valores mais baixos até o final
deste ano “devem deixar as ações voláteis no curto prazo”.
Além dos fundamentos atrativos no médio prazo, diversos fatores
específicos da companhia devem influenciar uma performance positiva,
segundo Tavarez, a começar pelas “melhoras na folha de balanço, os
ganhos com sinergias e os projetos de expansão de capacidade”, com
aproximadamente 4 milhões de toneladas de capacidade adicional nas
plantas de celulose. Os projetos já anunciados da empresa são Veracell
II, Três Lagoas II e Losango, com inícios previstos para 2013, 2014 e
2018, respectivamente.
Outro ponto que pesa sobre o desempenho dos papéis é a elevada
alavancagem da empresa, que, com a fusão, assumiu as dívidas da Aracruz
advindas das operações com derivativos, que resultaram em perdas de
aproximadamente R$ 2 bilhões em 2008. Na época, a empresa inclusive
perdeu o grau de investimento dado pelas agências de classificação de
risco, mostrando um abalo na confiança do mercado.
A questão parece estar caminhando para um desfecho positivo. O
analista do Citi prevê a retomada do investment grade já no próximo ano,
seguindo reduções consecutivas no endividamento da empresa. Citando o
bom histórico do CFO (Chief Financial Officer), João Elek, as projeções
de Tavarez são de que a relação entre dívida líquida e Ebtida (geração
operacional de caixa) terminem 2010 em 3,3 vezes e caiam para 2,2 vezes
em 2011.
Com fundamentos de longo prazo positivos e um curto prazo
pressionado, os papéis da empresa enfrentam ainda a concorrência de
rivais como a Suzano – tanto no mercado de celulose quanto na própria
bolsa. “Estamos revendo nosso preço-alvo para a companhia, porém
continuamos esperando performance neutra em relação ao mercado nos
próximos meses, tendo em vista o seu elevado endividamento e a recente
queda nos preços de celulose”, resume a Socopa.
B2W: crescimento abaixo da média
Para quem segue as ações do setor de consumo e varejo, não é surpresa que os papéis da B2W aparecem na lista das large caps que não conseguem decolar. As ações caíram nada menos do que 7,3% no dia seguinte à divulgação dos resultados do segundo trimestre, em 5 de agosto. Números que foram decepcionantes para alguns analistas – e levaram inclusive a cortes nas recomendações de bancos como o HSBC.
“Ajustamos nossas estimativas para a B2W, já que as tendências de
crescimento da receita continuam a cair, apesar das margens um pouco
melhores”, afirmou a equipe comandada pelo analista Francisco Chevez, do
HSBC, no relatório em que o banco cortou a recomendação de overweight
para neutra e o preço-alvo de R$ 38 para R$ 33 por ação.
Mas antes mesmo da divulgação dos resultados as ações já vinham
pressionadas, com quedas acumuladas de 30% no ano até o dia 5 deste mês.
Agora, o recuo desde janeiro até o último fechamento é de 39,12%.
O que faz com que uma empresa exposta ao consumo doméstico – em uma
época em que o Brasil chama a atenção dos especialistas pela
considerável resiliência do mercado interno – recue quase 40% em oito
meses? Margens comprimidas, competição acirrada e perspectivas de
crescimento abaixo da média.
“Enquanto as margens poderiam se recuperar na base de comparação
anual no terceiro trimestre (quando a B2W superar a introdução de novas
categorias de ticket mais baixo), as projeções para as vendas no ano
seguem limitadas devido a uma severa competição no segmento de bens
duráveis, que pode atingir a B2W, dado que a companhia está tentando
controlar as suas margens”, explica o analista David Belaunde, do
Barclays Capital.
Em termos de competição, além da redução das margens, um outro
problema é a perda de market share. Para Carlos Albano, do Citigroup, os
competidores têm sido capazes de ganhar participação no mercado através
da redução dos preços. “Nós esperamos que a B2W continue a perder
participação nos próximos quatro anos e de 2014 para frente, esta fatia
deve se estabilizar em 36%, comparado aos 44% esperados para 2010”.

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